A noite era perfeita para aquele evento em torno da fogueira crepitante, lançando sombras trêmulas sobre a barraca e a vegetação mais próxima. O cheiro da lenha queimando e da terra úmida pelo sereno pairava no ar. Enquanto o céu exibia uma tela escura pontilhada de estrelas, parecendo infinitamente vasto.
- Pai!
A voz da pequena criança quebrou o silêncio.
- O que são aquelas luzes que se movem tão rápidas lá em cima?
Ela apontava um dedinho de sete anos de idade para um ponto luminoso que ziguezagueava entre as estrelas fixas.
Lucas, o filho adolescente, que até então parecia absorto em seus próprios pensamentos, ergueu uma sobrancelha.
- É só um avião... ou um satélite.
Ele disse com um ar de quem sabia tudo.
O pai sorriu naquele instante, ajustando um graveto na fogueira.
- Bem, pode ser, Lucas. Mas e se não for? E se forem... visitantes de outro mundo?
Uma conversa assombrosa próxima da fogueira era tudo que precisava, para criar um clima perfeito àquele momento.
Os olhinhos da menina se arregalaram.
- Alienígenas?
Ela sussurrou, juntando os joelhos com as mãos.
- Exatamente!
O pai continuou, com seu tom divertido, mas responsável.
- Pensar que somos os únicos em todo esse universo, seria um pouco de presunção, não acham? Olhem para todas essas estrelas. Cada uma delas pode ter planetas, girando ao redor. Alguns talvez, até com vida.
O adolescente retrucou.
- A gente nunca viu nada. É tudo coisa de filme.
- Ah, mas ver é uma coisa, saber é outra.
Ponderou o pai.
- Pensem nas histórias de pessoas que relataram ver luzes inexplicáveis, ou até naves. A ciência ainda está tentando entender muita coisa no espaço. O que a gente não conhece, não significa que não exista.
A pequena se aconchegou mais perto do pai.
- Eles são amigos?
O irmão retrucou.
- São assustadores?
- Acho que seriam só diferentes.
Respondeu o pai, observando as chamas que já levantavam fagulhas para o céu.
- Assim como nós somos diferentes uns dos outros, mesmo aqui na Terra. Talvez eles estejam apenas nos observando, assim como nós observamos as estrelas.
Lucas mostra interesse pela conversa e participa com uma indagação.
- Então você acha que pode mesmo ter vida lá fora? Tipo, inteligente?
- É uma possibilidade fascinante, não é?
O pai disse, lançando um olhar para o céu. Como se procurasse por um deles.
- Imaginar que em algum lugar distante, talvez nesse exato momento, alguém esteja olhando para a nossa estrela, o nosso Sol. E se perguntando a mesma coisa sobre nós. O universo é cheio de mistérios, e essa é uma das coisas mais bonitas de se acampar sob um céu tão estrelado. Ele nos faz pensar grande, muito grande.
- Aqui! Olha. Encontrei na internet.
“Um extraterrestre provavelmente vai querer ter conhecimento dos hábitos e costumes dos humanos antes de tentar algum contato. Sejam quais forem as intenções deles, obviamente a atenção seria meticulosa".
- Pai!
- Que foi, filha?
- Tinha uma estrela ali que saiu e foi embora.
O adolescente debochadamente entrepõe-se.
- Tá doida! Estrela não sai andando.
- Calma! Aquela que acaba de passar voando é uma estrela cadente. Na verdade, um asteroide que entrou na atmosfera da Terra. Ou até mesmo algum lixo espacial que queima quando cai.
- Não, pai! Ela tava parada. Eu tava olhando. E ela saiu e sumiu pra lá.
- Vai ver que eram eles que estavam nos observando.
Disse o irmão ironicamente.
- Ah! Você está brincando. Mas, existem pessoas que relatam ver essas coisas.
É verdade! Muitos são os relatos de avistamentos e até mesmo de abduções. O pai está certo e é sabedor disso. Mesmo que a ciência não queira nos contar, essas coisas acontecem.
Existem pessoas que se sentem perseguidas por alienígenas. Foram contatadas e seguidamente recebem visitas estranhas durante a noite.
Ufólogos pesquisam sobre o assunto e dizem que a coisa é séria.
O irmão levantou-se para trazer mais lenha para a fogueira.
- Olha! Um homenzinho verde agarrou a minha mão.
Vindo do escuro com um graveto na mão. Tentando assustar a irmã.
- Deixa de bobagem, Lucas. Pensa que sou boba?
O pai sorriu e abraçou a filha.
- Minha pequena é corajosa!
- Quero ver quando for pra dormir. Não quero ninguém chorando na barraca, hem!
- Ora, Lucas! Ela já tem sete anos. Já é uma mocinha.
- É! Só quero ver.
Ela aperta os olhinhos e balança a cabeça.
- Ele pensa que já é adulto.
- Ah, ah, ah…
Todos riem. A alegra de estarem juntos era a maior graça que poderiam receber.
A noite transcorria esplendida. Os astros lá de cima movimentavam-se naturalmente durante o caminhar celeste.
As luzes pararam de movimentar-se. Ou talvez uma ou outra passava despercebida. Eram apenas as estrelas, alguns satélites e nada mais.
Enquanto eles cantavam em torno da fogueira, as chamas dançavam ritmadas com o calor do fogo.
Se existe vida lá fora, ela poderia estar a nossa procura também. Bastava um olhar de curiosidade para cima.
Enquanto a fogueira diminuía sua chama e as estrelas pareciam brilhar com mais intensidade, o mistério das luzes no céu se misturava à tranquilidade da noite, deixando a família com uma sensação de admiração e a infinita possibilidade do desconhecido.